MITOS E CRENÇAS EXPLICADOS
Os lobos atacam pessoas? – NÃO
Os lobos evitam as pessoas e não as perseguem nem atacam, e não representam qualquer ameaça à segurança de adultos ou de crianças. Com efeito, apesar de sempre terem existido lobos em Portugal, não há um único registo confirmado de um ataque de lobo saudável, em contraste com os inúmeros casos de ataques de cães vadios a pessoas que ocorrem um pouco por todo o país.
Se tal fosse verdade, considerando que havia lobos em todo o país, muitas vezes perto das aldeias, e que muitas vezes atacavam rebanhos protegidos por pastores (alguns deles crianças), seria de esperar um maior número de ataques a pessoas. Mas não é assim.
Os únicos registos que existem durante o século XX referem-se a lobos com raiva, uma doença entretanto erradicada do nosso país, que ataca o sistema nervoso central dos canídeos, provocando desorientação e agressividade, ou seja, tornando os lobos mais agressivos e alternado o seu comportamento, fazendo com que se aproximassem das pessoas.
Os lobos são largados? – NÃO
Nunca houve qualquer reintrodução (“largada”) de lobos em Portugal nem em qualquer outro país na Europa. A crença de que alguém, quer seja o Estado, os conservacionistas ou outra entidade, anda a “soltar” lobos não é nova, surgindo em notícias de jornais na década de 80 do século XX, e não está limitada ao nosso país, sendo referida noutros países, como Espanha ou Itália. Mas não corresponde à realidade.
A reintrodução de lobos é um processo muito complexo e dispendioso, que só poderia ser levado a cabo pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, e apenas se houvesse razões fortes que o justificassem. Ao contrário do lince-ibérico, que foi considerado extinto no nosso país, tendo-se iniciado um programa de reintrodução, a população portuguesa de lobos, apesar de estar ameaçada, ainda é viável, tendo-se mantido estável nas últimas décadas e, além disso, está conectada à população espanhola, que tem cerca de 2.000 lobos e está a expandir-se e a aumentar naturalmente.
Além disso, não faria sentido o Estado iniciar um programa de reintrodução de lobos em regiões onde a aceitação social ainda é baixa ou onde não há condições ecológicas para eles sobreviverem, particularmente, quando não há presas silvestres disponíveis em quantidade suficiente. E, caso o fizesse, teria sempre de informar e envolver a sociedade, à semelhança do que feito no programa de reintrodução do lince-ibérico em Portugal e do que é feito em todos os programas de reintrodução de ursos ou linces, já realizados na Europa.
As únicas reintroduções de lobos no hemisfério norte ocorreram nos Estados Unidos: i) no Parque Nacional de Yellowstone de 1995 a 1997; ii) no Arizona e no Novo México, onde em 1998 teve início a reintrodução do lobo mexicano (Canis lupus baileyi), uma subespécie do lobo-cinzento; iii) no sudoeste dos EUA, onde em 1987 se deu início à reintrodução do lobo vermelho (Canis rufus).
Os lobos de agora são diferentes dos de antigamente? – NÃO
Os lobos atuais descendem da população de lobos original. Mas, tal como acontece na população humana, as populações de lobos também evoluem com o tempo. Além disso, cada lobo adulto é um indivíduo com características únicas, existindo lobos maiores e outros com uma pelagem mais escura.
Também as fêmeas são mais pequenas que os machos e há que ter em consideração que os lobos mudam de aspeto ao longo da vida (os juvenis são mais angulosos a têm uma pelagem geralmente mais escura) e também durante o ano. No verão, os lobos perdem o subpelo, o que faz com que pareçam ser menos corpulentos, ter uma cabeça mais quadrada e orelhas mais salientes, e a pelagem tem tons mais amarelados.
Os lobos não caçam javalis e são afastados por estes? – NÃO
Os lobos alimentam-se de javali em todas as regiões do país onde as duas espécies ocorrem. Em certas regiões, como no Parque Natural de Montesinho, o javali pode representar até 40% da alimentação do lobo. Uma alcateia, com vários lobos, consegue mesmo capturar javalis adultos.
O facto de haver menos lobos em regiões onde há mais javalis apenas reflete o facto de, à medida que o lobo desaparece e caça menos javalis, o número destes começa rapidamente a aumentar. Como se compreende do que foi dito anteriormente, o lobo não tem medo do javali nem é afastado por ele, muito pelo contrário, o javali é uma presa regular na alimentação das alcateias.
Os lobos atacam por prazer? – NÃO
O facto de os lobos poderem matar vários animais num mesmo ataque está relacionado com o instinto de caça, que está sempre a ser “ativado” enquanto existirem presas acessíveis. Estas situações são muito raras na natureza, pois o sucesso de captura das presas pelo lobo é muito baixo, em virtude de as presas silvestres, se estiverem saudáveis, estarem mais aptas a escapar e a proteger-se dos ataques dos lobos que os animais domésticos. No caso do gado, como muitas raças já perderam os comportamentos de defesa naturais, estas situações são mais comuns, particularmente quando os animais estão num local fechado, como uma vedação ou um estábulo, e não conseguem escapar.
Este comportamento não é exclusivo dos lobos e também surge noutros predadores. São bem conhecidas situações semelhantes como, por exemplo, quando uma raposa entra num galinheiro e mata quase todas as galinhas que lá estão, quando estas não conseguem escapar.
Os lobos aproveitam bem as carcaças dos animais que capturam? – SIM
Se não forem perturbados e as carcaças não forem mexidas, os lobos aproveitam ao máximo o alimento disponível dos animais que capturam, quer consumindo grandes quantidades (podem comer até 10 kg de carne numa só refeição), quer levando os restos (que até podem enterrar em locais distantes e aproveitar mais tarde), quer regressando várias vezes à carcaça (caso se trate de um animal de grande porte), até a consumirem totalmente.
Desta forma evitam ter de caçar tão frequentemente, o que implica terem de despender mais energia e, muitas vezes, arriscaram-se a ser feridos ou a não ser bem sucedidos – os lobos apenas têm sucesso em menos de metade das tentativas de caça.
Os lobos são incompatíveis com a caça maior? – NÃO
O lobo caça os animais mais débeis e doentes das populações de corços, veados ou javalis, que são mais fáceis de capturar. Ao eliminar os animais mais fracos e diminuir, de forma natural, a ocorrência de doenças, o lobo contribui para melhorar a saúde e a condição das populações dessas espécies e, consequentemente, a qualidade dos troféus de caça.
À medida que a condição das presas melhora, também o sucesso de caça do lobo diminui e as populações de presas e predador tendem a atingir um equilíbrio, ficando o número de corços, veados ou javalis mais adequado às condições ambientais.
Por outro lado, ao controlar o número de cães vadios e assilvestrados, o lobo ajuda também a diminuir o impacto que estes quer na caça maior quer menor.