MEDIDAS DE PROTEÇÃO DO GADO

Existem várias medidas com eficácia comprovada que os produtores pecuários podem utilizar para melhorar a proteção do gado. Algumas são mais tradicionais, como os cães de gado, e outras mais recentes, como as vedações elétricas. A seguir indicam-se algumas dessas medidas, salientando-se os principais cuidados a ter e os contextos para maximizar a sua eficácia.

Algumas destas medidas podem ser usadas de forma isolada ou complementar, em diferentes contextos ou épocas do ano, mas deverão ser sempre adequadas ao maneio, ao tipo de gado a proteger e ao risco de ataque pelo lobo. A sua eficácia pode variar e depender de cada situação específica, mas se forem bem aplicadas deverão ser eficazes.

Os produtores pecuários deverão começar por avaliar os problemas e as necessidades da sua exploração; identificando os animais mais afetados, as pastagens onde há maior risco de predação ou o período do ano mais problemático, para então decidir sobre as medidas de proteção e de maneio mais adequadas.

O uso destas medidas custa tempo e dinheiro, pelo que é importante fazer uma avaliação prévia dos custos-benefícios. Os produtores pecuários deverão informar-se sobre os apoios existentes, financeiros ou técnicos, que possam facilitar a sua aplicação.

Cães de proteção de gado

Um cão de proteção de gado tem características físicas e comportamentais especiais, selecionadas para proteger os animais domésticos de predadores, desde lobos, cães vadios ou raposas. Afastam também javalis e veados que podem causar prejuízos nas culturas agrícolas ou transmitir doenças ao gado.

 

  • O cão de proteção de gado deve ser do tipo mastim de montanha, com peso mínimo de 25/30 kg (fêmeas/machos) e altura mínima ao garrote (altura ao dorso) de 55/60 cm (fêmeas/machos), em adulto, como sejam os das raças Cão da Serra da Estrela, Cão de Castro Laboreiro, Cão de Gado Transmontano e Rafeiro do Alentejo.

  • O número ideal de cães depende de vários fatores, como o efetivo, o maneio e comportamento do gado, a sua espécie e raça ou a densidade de lobos na região. No caso de rebanhos ou manadas não vigiados por pastor deverão existir pelo menos dois cães, para se poderem apoiar e dar confiança um ao outro. 

  • Para ter direito à indemnização pelo ICNF dos prejuízos atribuídos ao lobo, deve ter no mínimo 1 cão por 50 ou 10 Cabeças Normais (para grandes ou pequenos ruminantes, respetivamente), até um máximo de 5 cães por produtor.

  • Para serem eficazes, os cães devem ser habituados ao gado desde tenra idade. Idealmente devem nascer já no meio do gado, senão devem ser integrados a partir dos 2 meses, após o desmame e a primeira vacinação.

  • Devem ficar sempre junto do gado que irão proteger, mas impedindo que os animais adultos mais agressivos possam ferir os cachorros.

  • Deve ter especial atenção entre os 5–10 meses de idade do cão, pois pode tornar-se muito brincalhão e perseguir ou ferir o gado, devendo ser logo disciplinado e, se necessário, separado temporariamente dos animais.

  • Estes cães só atingem a maturidade ao ano e meio, 2 anos de idade. Assim, não se pode esperar que um cão juvenil atue como um adulto, pois não tem a mesma capacidade, confiança e experiência.

A eficácia dos cães de gado depende de vários fatores, como o seu número, as condições ambientais, o nível de predação pelo lobo, o maneio e comportamento do gado, para além da qualidade dos pais e, claro, da forma como foram educados e mantidos até atingir a idade adulta

Vedações de malha metálica

Indicadas para proteger o gado durante a noite, para pastagens pequenas ou para confinar os animais mais vulneráveis. A área deve ser suficiente para acomodar todos os animais, seguindo as normas de segurança e bem-estar. Solicite sempre as autorizações de construção necessárias na câmara do município onde vive e ao ICNF, caso a vedação fique no interior da Rede Natura 2000 ou de uma Área Protegida. 

  • Altura mínima de 1,8 a 2 m a partir do solo, podendo incluir remate no topo em forma de pescoço de cavalo (voltado para o exterior).

  • Enterrar a rede pelo menos 30 cm ou chumbar com cimento, de forma a impedir que os predadores passem por baixo. Se não for possível, manter um prolongamento mínimo de 50 cm junto ao solo para o exterior, coberto com terra e pedras ou cravado no solo com estacas ou ganchos de metal.

  • A rede deve ser de malha metálica, solta em forma rombóide ou eletrossoldada (terreno mais plano) e de arame galvanizado. O espaçamento entre os elementos da malha não deve ser superior a 15 cm, pelo menos num dos sentidos (horizontal ou vertical).

  • Os postes (em madeira, metal, pedra ou cimento) para suporte da rede devem ser espaçados 2 a 5 m (dependendo da rigidez da rede) e enterrados 40 cm no mínimo.

  • O portão em metal deverá ser montado de forma a minimizar o intervalo junto ao solo. Deve construir um muro de alvenaria enterrado ou, em alternativa, enterrar uma laje grande ou um lintel em madeira tratada.

As vedações devem impedir a entrada dos predadores. Quando bem construídas e mantidas, são uma barreira muito eficaz para proteger o gado, podendo a sua eficácia chegar aos 100%. Quando não têm as características ideais, devem ser usadas em conjunto com cães de proteção.

Vedações elétricas

Podem ser fixas ou móveis, neste último caso de fácil transporte e montagem em locais diferentes, acompanhando as deslocações do gado. São úteis para confinar e proteger o gado durante a  noite ou em pastagens pequenas ou temporárias. Para facilitar a montagem e a desmontagem os fios podem ser enrolados em bobinas.

  • Devem ter entre 1,5 e 1,7 m de altura e serem formadas por vários fios (ou fitas) elétricas ou por cabos de aço de 1,5 mm, sendo estes últimos mais indicados para vedações fixas ou para gado menos habituado a estas vedações.

  • Os fios devem estar espaçados de 10 a 30 cm. Idealmente aqueles que estão mais perto do solo, devem estar mais próximos uns dos outros. Evitar distâncias superiores a 15 cm entre o fio mais baixo e o solo.

  • A distância entre os postes (em plástico, metal ou madeira) deve ser de 2 a 10 m, devendo estar mais próximos quando o terreno é irregular de forma a manter a distância recomendada para o fio mais baixo.

  • O portão deve ser eletrificado ou à prova de predadores.

  • A tensão deve ser no mínimo de 5.000 V (idealmente entre os 8.000 e os 10.000 V). Os eletrificadores podem ser alimentados por corrente elétrica, bateria ou painel solar.

  • O sistema de terra deve estar bem montado e a vegetação limpa em torno da vedação, para não tocar nos fios e evitar falhas ou perdas de voltagem.

Quando bem montadas e mantidas, as vedações elétricas podem ser muito eficazes na proteção do gado. O seu uso é menos aconselhável em áreas muito grandes, pois aumenta a possibilidade de mau funcionamento ou danos. As vedações elétricas fixas são mais económicas e rápidas de montar do que as de malha metálica, mas requerem monitorização regular de forma a  garantir-se a eficácia. Quando não têm as características ideais, devem ser usadas em conjunto com cães de proteção de gado.

Barbacanas ou fladry

Consistem em fitas de plástico ou nylon, geralmente de cor vermelha, com 50×10 cm, penduradas num fio, a intervalos de 50 cm e a 50 cm do solo.

Fladry protegendo um rebanho de ovelhas. Foto: Grupo Lobo
  • Têm um efeito imediato, mas temporário, de cerca de 2 meses, pois os lobos habituam-se facilmente. Porém, se o fio for eletrificado (turbo-fladry) a proteção pode prolongar-se até 1 ano.
     
  • Podem usar-se quando o gado está mais vulnerável, protegendo animais mais jovens ou na época de parição.

  • Indicadas em situações de grande risco de predação ou como primeira medida a aplicar, enquanto se aguardam outros métodos de proteção.

Sons e luzes

Canhões de propano, sirenes ou luzes emitidas de forma intermitente, com intervalos regulares ou aleatórios.
Canhão de propano. Foto: Javier Talegon
Luz intermitente. Foto: Javier Talegon
  • Mais eficazes em pastagens pequenas, podem ter um efeito imediato, mas de curta duração, pois os lobos habituam-se.

  • Podem ser usados em conjunto com outros métodos e em situações de emergência ou temporárias.

Coleiras de proteção

Coleiras largas de material resistente ou outro tipo (p.ex., sonoras, luminosas ou elétricas), colocadas no gado e nos cães, protegem o pescoço, onde geralmente os lobos mordem.

Coleira de picos em metal - Castro Daire. Foto: Grupo Lobo
Coleira de picos em couro - Melgaço. Foto: Joaquim Pedro Ferreira

A utilização alternada ou simultânea de vários métodos de prevenção e diferentes estímulos, assim como a mudança do local onde são colocados os equipamentos, diminui a possibilidade de habituação por parte dos predadores. 

Fontes:
Álvares et al. (2019) Manual de convivência com o lobo. ALDEIA/CIBIO/Município de Paredes de Coura.
Grupo Lobo (2015) Manual. Prevenção de prejuízos por predadores no gado. Grupo Lobo, EC/LCIE/IEA.
Grupo Lobo (s/d) Vedações eléctricas para proteger o gado. Projeto LIFE-COEX.
Grupo Lobo (s/d) O cão de gado: Um ajudante eficaz. Projeto LIFE-COEX.
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