CONSTRUÇÕES PARA PROTEÇÃO DO GADO

As construções associadas à pastorícia estão frequentemente associadas à necessidade de vigiar e proteger o gado dos ataques de predadores, principalmente do lobo. Neste sentido, constituem elementos incontornáveis da cultura pastoril diretamente associados ao lobo, o que justifica a sua inclusão entre o património construído com potencial aproveitamento turístico.

Abrigos pastoris

Os abrigos pastoris tinham a função de proteger os pastores contra as intempéries sempre que vigiavam o gado durante o pastoreio, podendo também ser usados para pernoitar. A presença do pastor era fundamental para vigiar as deslocações do gado e cuidar dos animais mais jovens, mas também para protegê-los do ataque de predadores, como os lobos.
O acompanhamento e a vigilância obrigatória do gado, devido ao risco de ataques de lobos e outros predadores, levou à construção desses abrigos um pouco por toda a paisagem nacional. Existem vários tipos de abrigos pastoris, com diferentes tipos de materiais e graus de complexidade, muitas vezes dependente da função a que se destinavam e da sua localização.

Abrigo pastoril – Serra do Soajo (Arcos de Valdevez). Foto: Lemuel Silva

Os abrigos maiores e mais complexos estavam associados a contextos em que era necessário pernoitar e cozinhar, podendo ter mais de uma divisão e, nalguns casos, dois pisos. Os mais simples poderiam ser grutas naturais, grutas escavadas na rocha ou penedos em torno dos quais se erigiam as paredes. Noutros contextos, os abrigos eram parcial ou totalmente feitos de materiais vegetais, podendo ser móveis, ou consistir em simples muros de pedra sem qualquer cobertura que apenas eram usados para abrigar o pastor do sol ou do vento forte.

Os abrigos que ainda persistem na atual área de distribuição do lobo consistem, geralmente, em pequenas casotas rudimentares de pedra solta, muitas vezes cobertas por lajes ou em falsa cúpula (sobreposição de camadas de pedra, apoiadas umas sobre as outras, em espiral). Nalguns é possível encontrar perto uma pedra com depressões onde era colocada a comida para os cães de proteção de gado que acompanhavam o pastor.

Existem também abrigos associados a currais (pastagens muradas onde o gado era recolhido durante a noite), que tinham  a função adicional de proteger o gado mais vulnerável (como as crias) contra os predadores (lobos, ursos ou raposas).

Currais

Os currais ou bardos (também designados por cancelas) fazem parte dos métodos tradicionais que ainda são utilizados para a proteção do gado contra os ataques de predadores como o lobo.

São usados para recolher o gado durante os períodos de repouso diurno ou noturno, geralmente durante o verão e de forma temporária, em pastagens longe das aldeias e seus estábulos. O objetivo não era impedir o acesso dos predadores, mas sim limitar a dispersão do gado, facilitando a ação do pastor e dos cães de gado, em caso de aproximação de predadores, e impedindo a debandada dos animais.

Curral para guardar ovelhas – Bragança. Foto: Bruno Arrojado

De formato circular ou retangular, podem ser fixos ou móveis, consistindo no primeiro caso em muros de pedra e, no segundo, num conjunto de cancelas. Estas eram tradicionalmente de madeira ou de outros materiais vegetais e, mais recentemente, de metal. Os currais móveis são periodicamente mudados de local acompanhando as deslocações do gado.

No mapa seguinte identificam-se alguns concelhos para os quais foi possível recolher informação sobre o uso, mais ou menos recente, deste tipo de construções – abrigos pastoris e currais para o gado. Para ver as fotografias basta clicar nos concelhos assinalados.

Mapa de construções pastoris
Fotos:
Ernesto Veiga de Oliveira, Francisco Álvares, João Carlos Caninas, José Domingues, Lemuel Silva, Miguel Angel Adrados, Mónia Nakamura, Nuno Guimarães.
Fontes:
Dias (2020) Abrigos pastoris na Serra do Soajo. Trabalhos de Antropologia e Etnologia 12(3-4). Galhano & Pereira (1994) Construções Primitivas em Portugal (3ª Edição). Publicações D. Quixote.
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